VELHICE: OLHARES MORALISTAS
A morte de Robin Williams mexeu com o imaginário das pessoas, afinal, era um comediante e ator conhecido. Por causa dos seus personagens engraçados e alegres, muitos não imaginavam que Williams sofria de depressão. Sobre o tema, Regis Tadeu escreveu:
"Antes que você venha com aquele papo 'pô, que merda é essa: o cara era milionário e tinha depressão', é preciso que entenda de uma vez por todas: DEPRESSÃO É DOENÇA! Não tem nada a ver com a parte psicológica e sim com uma deficiência bioquímica do organismo. É para isto que se toma remédio nestes casos: para compensar a não produção de determinadas substâncias por parte de nosso organismo. Não é uma simples tristeza, solidão, fracasso emocional ou outra coisa que possa ser controlada. Precisa acabar esta história de que 'depressão é frescura'. Não é. É uma doença que pode matar. E matar um cara alegre como Robin Williams..."*
Após dois divórcios, Robin Williams enfrentava problemas financeiros. O ator foi usuário de cocaína e era alcoólatra. Tinha 63 anos. Talvez as pessoas não percebam, mas todos esses fatores podem levar ao suicídio. Em outras palavras, é difícil não surgir o suicídio quando existe a associação entre a depressão, a cocaína, o excesso de álcool, os problemas financeiros e a velhice.
O termo “velhice” é polêmico no mundo atual. As pessoas fazem plásticas, pintam os cabelos e parecem jovens mesmo com mais de 60 anos (como é o caso de Mick Jagger, com 71 anos).
No entanto, a questão é que a idade é um fator importante no contexto do suicídio. Para a ideologia capitalista, (por causa da produtividade) o indivíduo só seria interessante entre os 20 e 40 anos.
Depois dos 40 anos, o indivíduo é descartado. Não importa se ele trabalha, se sente útil, possui família, entre outras coisas. Após os 40, o que muda é a maneira que ele é percebido por todos. São os “olhares moralistas”.
O fato de ser milionário ou usar botox ou fazer cirurgias ou mesmo praticar esportes, claro, não muda esse quadro. O indivíduo continua a ser visto como “velho” e as pessoas têm pavor da velhice porque, entre outros motivos, “o próximo passo” seria a morte.
Na velhice, mesmo rodeado de pessoas, como diria Robin Williams, as pessoas se sentem mais sozinhas. Mesmo mudando a aparência física, elas percebem que não possuem a disposição e nem a ingenuidade de quando tinham 20 anos e a vida parecia ser uma coisa alegre, divertida, e promissora.
As experiências (principalmente os fracassos, as crises, as rejeições, as traições, entre tantos sentimentos negativos) pesam e incomodam o sono de qualquer um – podem influenciar (ainda) na falta de apetite ou no desinteresse sexual.
Com a velhice, tudo piora. Existem os otimistas que desejam ver o lado positivo de tudo e se apegam em ilusões e fantasias para continuar vivendo. Nem eles escapam, contudo, dos graves problemas típicos da idade, como o ataque cardíaco ou o AVC.
Muitos indivíduos procuram consolo na religião. Outros ocupam o tempo com o excesso de trabalho (mesmo não possuindo mais 20 anos). Alguns utilizam o alcoolismo ou as drogas para suportar a realidade.
Os familiares fazem parte daqueles que olham os mais velhos com censura. As suas críticas são piores porque aparecem sob o disfarce do “fogo amigo” (aquela velha história de que estariam te fazendo mal para o seu próprio bem...).
Existe ainda a constante (e, muitas vezes, involuntária) avaliação do que fez na vida. O inconsciente incomoda. O que havia sido esquecido por décadas reaparece como um fantasma assustador. Não há como não associar: muitos anos, muitas experiências e muitas neuroses...
Tudo isso e mais os “olhares moralistas” excluem aqueles que são considerados velhos. Não deixam, aliás, muitas alternativas para continuar vivendo. Num contexto assim, o suicídio pode até parecer uma alternativa razoável.
© profelipe ™ 13-08-2014
(*) Regis Tadeu. No fim, Robin Williams ensinou: ninguém realmente é o que aparenta ser. Yahoo, 12-08-2014. https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/no-fim-robin-williams-ensinou-ningu%C3%A9m-realmente-%C3%A9-160747337.html
A morte de Robin Williams mexeu com o imaginário das pessoas, afinal, era um comediante e ator conhecido. Por causa dos seus personagens engraçados e alegres, muitos não imaginavam que Williams sofria de depressão. Sobre o tema, Regis Tadeu escreveu:
"Antes que você venha com aquele papo 'pô, que merda é essa: o cara era milionário e tinha depressão', é preciso que entenda de uma vez por todas: DEPRESSÃO É DOENÇA! Não tem nada a ver com a parte psicológica e sim com uma deficiência bioquímica do organismo. É para isto que se toma remédio nestes casos: para compensar a não produção de determinadas substâncias por parte de nosso organismo. Não é uma simples tristeza, solidão, fracasso emocional ou outra coisa que possa ser controlada. Precisa acabar esta história de que 'depressão é frescura'. Não é. É uma doença que pode matar. E matar um cara alegre como Robin Williams..."*
Após dois divórcios, Robin Williams enfrentava problemas financeiros. O ator foi usuário de cocaína e era alcoólatra. Tinha 63 anos. Talvez as pessoas não percebam, mas todos esses fatores podem levar ao suicídio. Em outras palavras, é difícil não surgir o suicídio quando existe a associação entre a depressão, a cocaína, o excesso de álcool, os problemas financeiros e a velhice.
O termo “velhice” é polêmico no mundo atual. As pessoas fazem plásticas, pintam os cabelos e parecem jovens mesmo com mais de 60 anos (como é o caso de Mick Jagger, com 71 anos).
No entanto, a questão é que a idade é um fator importante no contexto do suicídio. Para a ideologia capitalista, (por causa da produtividade) o indivíduo só seria interessante entre os 20 e 40 anos.
Depois dos 40 anos, o indivíduo é descartado. Não importa se ele trabalha, se sente útil, possui família, entre outras coisas. Após os 40, o que muda é a maneira que ele é percebido por todos. São os “olhares moralistas”.
O fato de ser milionário ou usar botox ou fazer cirurgias ou mesmo praticar esportes, claro, não muda esse quadro. O indivíduo continua a ser visto como “velho” e as pessoas têm pavor da velhice porque, entre outros motivos, “o próximo passo” seria a morte.
Na velhice, mesmo rodeado de pessoas, como diria Robin Williams, as pessoas se sentem mais sozinhas. Mesmo mudando a aparência física, elas percebem que não possuem a disposição e nem a ingenuidade de quando tinham 20 anos e a vida parecia ser uma coisa alegre, divertida, e promissora.
As experiências (principalmente os fracassos, as crises, as rejeições, as traições, entre tantos sentimentos negativos) pesam e incomodam o sono de qualquer um – podem influenciar (ainda) na falta de apetite ou no desinteresse sexual.
Com a velhice, tudo piora. Existem os otimistas que desejam ver o lado positivo de tudo e se apegam em ilusões e fantasias para continuar vivendo. Nem eles escapam, contudo, dos graves problemas típicos da idade, como o ataque cardíaco ou o AVC.
Muitos indivíduos procuram consolo na religião. Outros ocupam o tempo com o excesso de trabalho (mesmo não possuindo mais 20 anos). Alguns utilizam o alcoolismo ou as drogas para suportar a realidade.
Os familiares fazem parte daqueles que olham os mais velhos com censura. As suas críticas são piores porque aparecem sob o disfarce do “fogo amigo” (aquela velha história de que estariam te fazendo mal para o seu próprio bem...).
Existe ainda a constante (e, muitas vezes, involuntária) avaliação do que fez na vida. O inconsciente incomoda. O que havia sido esquecido por décadas reaparece como um fantasma assustador. Não há como não associar: muitos anos, muitas experiências e muitas neuroses...
Tudo isso e mais os “olhares moralistas” excluem aqueles que são considerados velhos. Não deixam, aliás, muitas alternativas para continuar vivendo. Num contexto assim, o suicídio pode até parecer uma alternativa razoável.
© profelipe ™ 13-08-2014
(*) Regis Tadeu. No fim, Robin Williams ensinou: ninguém realmente é o que aparenta ser. Yahoo, 12-08-2014. https://br.noticias.yahoo.com/blogs/mira-regis/no-fim-robin-williams-ensinou-ningu%C3%A9m-realmente-%C3%A9-160747337.html