CASAMENTO
A teoria do Nietzsche é complexa. No entanto, não seria possível desconsiderar o caráter elitista do seu pensamento. Isso vale quanto a sua visão sobre as mulheres (opinião que era apoiada por Karl Kraus):
"O filósofo Nietzsche avisava para os homens não esquecerem o chicote quando fossem encontrar uma mulher (Assim falou Zaratustra, 1883). (...) Para Kraus, ‘a sensualidade (...) das mulheres seria a fonte que a intelectualidade do homem (...) precisaria para a renovação’." (The Age of Empire, p. 206-207) * Ler no original em inglês.
Trata-se de um pensamento típico do século XIX, diriam alguns. Na verdade, se ainda hoje, em pleno século XXI, existem muitas pessoas machistas, imagine naquele século.
"O casamento era, de fato, ainda uma carreira em que até mesmo muitas mulheres que trabalhavam tinham como principal objetivo, o que as fariam abandonar o cargo de professora ou o emprego no escritório, no dia do casamento, mesmo quando elas não precisavam. (...) O custo da abnegação era alto e as mulheres que optavam por uma carreira, como Rosa Luxemburgo, sabiam que havia um preço a ser pago e que estavam pagando-o." (The Age of Empire, p. 216) ** Ler no original em inglês.
O “chicote” (na citação do Nietzsche) serviria para colocar a mulher no “seu lugar de inferioridade”. Para que ela serviria então? Aqui, Karl Kraus lembra da sua beleza mas de modo machista: a função da sensualidade feminina seria “renovar” intelectualmente o homem. Nos dois casos, a mulher é mostrada como mero objeto. Ela se sujeitaria a esse processo mesmo sendo independente do ponto de vista financeiro, desde que ela arrumasse um casamento. Para a maioria, casar seria o principal objetivo na vida.
Esta postura não acontecia só no século XIX. Foi assim no século seguinte e ainda hoje, após as conquistas do movimento feminista, muitas mulheres pensam desta maneira. Seria como se o sucesso profissional não fosse suficiente se não houvesse a companhia de um marido (e de filhos).
Desejar o casamento (tradicional) é visto como machismo tanto para um número grande de homens como de mulheres. Em muitos países, na atualidade, já são aceitos casamentos de pessoas do mesmo sexo e a adoção de filhos por esses casais.
Portanto, o problema central não estaria no casamento em si, mas na maneira pela qual ele seria utilizado pelas pessoas.
Isso significa, obviamente, que o próprio conceito de casamento mudou. Entretanto, o que permaneceu (na relação dos casais) foi outro tipo de desejo, ou seja, o desejo pelo poder, a necessidade de querer dominar o outro (mesmo que isso seja feito em nome do amor).
De certa forma, mudam as épocas, mudam os conceitos, mas a condição humana permanece a mesma. Isso, claro, não foi um elogio a esta espécie.
(*)“The philosopher Nietzsche’s endlessly quoted injunction to men not forget the whip when they went to woman (Thus Spake Zarasthustra, 1883) was actually no more sexist than the praise of women of Wininger’s contemporary and the admirer Karl Kraus. (…) for Kraus, ‘the sensuality (…) of women is the source to which man’s intellectuality (…) goes to renewal’.” (The Age of Empire, p. 206-207)
(**)“Marriage was indeed still a career to which even many non-manual working women looked forward, abandoning their school-teaching or office-employment on their wedding day, even when they did not have to. (…) the cost of self-abnegation was high and women who opted for a career, like Rosa Luxemburg, knew that it had to be paid and that they were paying it.” (The Age of Empire, p. 216)
A teoria do Nietzsche é complexa. No entanto, não seria possível desconsiderar o caráter elitista do seu pensamento. Isso vale quanto a sua visão sobre as mulheres (opinião que era apoiada por Karl Kraus):
"O filósofo Nietzsche avisava para os homens não esquecerem o chicote quando fossem encontrar uma mulher (Assim falou Zaratustra, 1883). (...) Para Kraus, ‘a sensualidade (...) das mulheres seria a fonte que a intelectualidade do homem (...) precisaria para a renovação’." (The Age of Empire, p. 206-207) * Ler no original em inglês.
Trata-se de um pensamento típico do século XIX, diriam alguns. Na verdade, se ainda hoje, em pleno século XXI, existem muitas pessoas machistas, imagine naquele século.
"O casamento era, de fato, ainda uma carreira em que até mesmo muitas mulheres que trabalhavam tinham como principal objetivo, o que as fariam abandonar o cargo de professora ou o emprego no escritório, no dia do casamento, mesmo quando elas não precisavam. (...) O custo da abnegação era alto e as mulheres que optavam por uma carreira, como Rosa Luxemburgo, sabiam que havia um preço a ser pago e que estavam pagando-o." (The Age of Empire, p. 216) ** Ler no original em inglês.
O “chicote” (na citação do Nietzsche) serviria para colocar a mulher no “seu lugar de inferioridade”. Para que ela serviria então? Aqui, Karl Kraus lembra da sua beleza mas de modo machista: a função da sensualidade feminina seria “renovar” intelectualmente o homem. Nos dois casos, a mulher é mostrada como mero objeto. Ela se sujeitaria a esse processo mesmo sendo independente do ponto de vista financeiro, desde que ela arrumasse um casamento. Para a maioria, casar seria o principal objetivo na vida.
Esta postura não acontecia só no século XIX. Foi assim no século seguinte e ainda hoje, após as conquistas do movimento feminista, muitas mulheres pensam desta maneira. Seria como se o sucesso profissional não fosse suficiente se não houvesse a companhia de um marido (e de filhos).
Desejar o casamento (tradicional) é visto como machismo tanto para um número grande de homens como de mulheres. Em muitos países, na atualidade, já são aceitos casamentos de pessoas do mesmo sexo e a adoção de filhos por esses casais.
Portanto, o problema central não estaria no casamento em si, mas na maneira pela qual ele seria utilizado pelas pessoas.
Isso significa, obviamente, que o próprio conceito de casamento mudou. Entretanto, o que permaneceu (na relação dos casais) foi outro tipo de desejo, ou seja, o desejo pelo poder, a necessidade de querer dominar o outro (mesmo que isso seja feito em nome do amor).
De certa forma, mudam as épocas, mudam os conceitos, mas a condição humana permanece a mesma. Isso, claro, não foi um elogio a esta espécie.
(*)“The philosopher Nietzsche’s endlessly quoted injunction to men not forget the whip when they went to woman (Thus Spake Zarasthustra, 1883) was actually no more sexist than the praise of women of Wininger’s contemporary and the admirer Karl Kraus. (…) for Kraus, ‘the sensuality (…) of women is the source to which man’s intellectuality (…) goes to renewal’.” (The Age of Empire, p. 206-207)
(**)“Marriage was indeed still a career to which even many non-manual working women looked forward, abandoning their school-teaching or office-employment on their wedding day, even when they did not have to. (…) the cost of self-abnegation was high and women who opted for a career, like Rosa Luxemburg, knew that it had to be paid and that they were paying it.” (The Age of Empire, p. 216)